Aproximadamente 10.000 a.C. os povos viviam da caça de animais de pequeno e médio porte, da pesca, e da colheita de leguminosas silvestres e alguns grãos. Esse sistema alimentar obrigava que esses povos vivessem movendo-se, em busca de novas áreas onde fosse possível abastecer-se por um período até migrar para outro espaço. E assim, como nômades, os primeiros Homo sapiens foram distribuindo-se pela superfície da terra.
A mulher, mãe, geradora da vida, que necessitava aquietar-se nos meses finais de prenhez e cuidar das crias, responsabilizou-se pela colheita de frutos e grãos nas proximidades dos agrupamentos nômades. Essa condição, possibilitou às mulheres a observação do nascimento de novas plantas, a partir de sementes deixadas na terra, e, repetindo um curso natural, lunar e cíclico, esse processo germinativo passa a ser entendido como um ciclo feminino. Desse modo, a fecundidade do solo e a fertilidade feminina trilham o mesmo caminho – uma aptidão femínea. E nesse despertar para novas flores que germinam, as mulheres colhem os frutos de serem tidas, por essas sociedades, como as responsáveis pela fertilidade da terra e dos animais.
A natureza apresenta-se para esses grupos como mãe, e as mulheres como detentoras de força semelhante, que têm na fertilidade do ventre o mesmo poder que têm os sulcos arados e fecundos. Dessa forma, a geração de vida pelo ventre ou pelo fazer brotar de novos frutos e espigas dos campos semeados passa a ser um ofício feminino.
Nessa profunda relação da mulher com a Pachamama, esta protagoniza o status de fertilizadora dos solos e dos animais. Como cultivadora, lança as primeiras sementes, fecundando o solo, donde germinam teosinto, ancestral do milho, e o trigo amidoreiro. Como mãe, que gera a vida, as mulheres possibilitaram uma das grandes revoluções da humanidade, a criação da agricultura, que permitiu a fixação de homens e mulheres, e com isso o surgimento das primeiras aldeias; posteriormente transformadas em cidades; cidades-estados e estados. Sendo, portanto, a mulher, através da sua atividade de coletora e posteriormente plantadora a mãe das primeiras sociedades.
A mulher, com a força criadora escorrendo pelas suas depressões naturais e canais, foi historicamente provedora da vida, parindo novos seres humanos das suas entranhas, e também, identificando as práticas que possibilitaram a agricultura, germinando de natureza igual uma nova sociedade.
Foi através dessa poderosa natureza instintiva, materna, geradora da vida, que a mulher deu à humanidade mais que a simples sobrevivência, mas sim, um meio de germinar, progredir e existir.
Nossas reflexões sobre o determinante período germinativo das mulheres intrínseco e inerente à primeira revolução agrícola, nos convida a ladear com elas no período do Crescente Fértil, como no desenvolvimento da agricultura no centro americano, centro chinês, centro neo-guineense, centro sul-americano e centro norte-americano, no próximo artigo. Nos vemos em 15 dias.
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FONTES CONSULTADAS
A condição feminina na agricultura e a viabilidade da agroecologia - Laura De Biase, São Paulo, 2007.
História das agriculturas no mundo: do neolítico à crise contemporânea – Marcel Mazoyer & Laurence Roudart, Brasília, 2010.
Mulheres que correm com lobos: mitos e histórias do arquétipo da Mulher Selvagem – Clarrissa Pinkola Estés, Rio de Janeiro: Rocco, 2014.
O martelo das feiticeiras – Heinrich Kramer & James Sprenger, Rio de Janeiro, 2015.
O segundo sexo: fatos e mitos - Simone Beauvoir, São Paulo, 1960.
1.11.2019