Minha história com a Pimenta Rosa não é de hoje. Primeiro, foi um encantamento da sua cor e aroma persistente, como um presente da natureza. Depois, quando iniciava minha carreira de cozinheira em grandes hotéis pelo Brasil, já nos anos 2000, me incomodava sua utilização exagerada na decoração dos pratos (praticamente todos). Me afastei das sementinhas. Mal sabíamos dos riscos de consumir em excesso.

Mas um belo dia ... voltando a pé pra casa depois de uma aula de Yoga, beirando o parque Arthur Tomas em Londrina (PR), divisei uma fileira de árvores que explodiam cachos perfumadíssimos dessas bolinhas rosa. Elas esbarravam em meu rosto me envolvendo em plenitude, peguei um galho que me chamou atenção e levei pra casa. Observando no caminho, vi que estava espalhada por todos os lados – por isso essa planta aromática cheia de charme e sabor estar associada à Prosperidade.

Ela é nativa da América do Sul e é da mesma família que a manga e o caju. Portanto, não é uma pimenta de verdade, embora seja suavemente picante. Os frutos da aroeira conhecidos por Pimenta Rosa são pequenas bagas que nascem nas pontas dos ramos. Apesar da cor rosa coral, que chama bastante a atenção, a Pimenta Rosa é delicada, e possui uma película quebradiça que reveste a sua semente aromática. Por esse motivo, ela deve ser manuseada com cuidado e armazenada com leveza. Caso contrário, a película se rompe e a Pimenta Rosa perde em beleza e sabor.

Existem muitas espécies de aroeira no Brasil, a mais popular é a Schinus molle, mais conhecida como Aroeira Salsa, localizada no sul e sudeste. A Schinus terebinthifolius, existente em todo o Brasil, é a mais apropriada e que utilizamos na culinária.

A Aroeira conta com taninos, polifenóis que possuem ação antioxidante leve. A planta também conta com flavonóides que tem forte ação antioxidante e por isso combatem os radicais livres, protegem o cérebro e o sistema cardiovascular e melhoram a circulação sanguínea. Já as saponinas, presentes na Aroeira, são substâncias com um efeito anti-inflamatório que contribui para o controle do colesterol, entre outros benefícios. O consumo favorece a digestão, pois funciona como um tônico natural estimulante do estômago. Devido ao seu poder antisséptico, tem sido usado pela medicina popular para tratar feridas e infecções. Também possui propriedades diuréticas e é eficaz no tratamento da dor de dente, reumatismo e cólicas menstruais.

A espécie de Aroeira Schinus terebinthifolius tem uso tradicional contra infecções nas genitálias devido à sua ação anti-inflamatória e cicatrizante. Neste caso, a planta não deve ser ingerida, mas sim utilizada para banhos de assento. Contudo, ainda são necessárias mais pesquisas para comprovar este benefício. Não há estudos sobre a dose diária segura de Aroeira.

Tese defendida na Universidade Federal de Pelotas, em 2012, sugere que a Pimenta Rosa é ativadora da produção de sangue na medula óssea (portanto é antirraquítica) e atua também na depuração do organismo e no combate a vermes por seus efeitos vermífugos.

As pequenas sementes são utilizadas também na produção de óleos essenciais, com suas sementes vermelhas e abundantes nos presenteiando com o sentimento de merecimento da riqueza do universo, chamando a prosperidade em nossas vidas. Destilada, traz clareza aos pensamentos, da mente para o corpo, aflorando a percepção ao toque corporal. Seu aroma “caliente” e picante desperta o romance e a sedução. Relaxa o ambiente para a entrada da magia, da abundancia e do amor. Pingue 3 gotas de óleo essencial no colar aromático e sinta.

O aroma das bagas esmagadas é agradavelmente frutado, com uma nota clara de pinho. O sabor é frutado resinoso e docemente aromático, similar ao zimbro, mas não tão forte. Pela sua característica levemente picante, o ideal é que a Pimentas Rosa seja adicionada na decoração do prato, cabendo a quem for comer escolher consumi-las ou não. Há quem aprecie a combinação da Pimenta Rosa com carnes gordurosas, peixes, aves, na decoração de grelhados e pratos com queijos. Na confeitaria, ela pode combinar tanto com chocolate preto como com chocolate branco.

Por fim, é preciso cautela ao consumir a Pimenta Rosa, pois há possibilidade de problemas alérgicos na pele e mucosa. Pessoas com predisposição a alergias devem evita-la. A planta também não é recomendada para pessoas com diarreia, por ter um efeito purgativo e também laxativo.

A receita de hoje traz como ingrediente um tempero em pó antioxidante que vai açafrão, páprica doce, curry, mostarda em grãos, pimenta rosa, branca e preta, gengibre e noz moscada, produzido pela Cozinha Dona Menina. Mas você pode brincar com a magia dos temperos e criar sua própria mistura de sabores com o que tem a disposição e dar a sua pitada intuitiva. Adoro essa parte!

CREME DE ERVILHA COM ORA-PRO-NÓBIS E PIMENTA ROSA

Ingredientes:

• 400 g de ervilha seca
• 600 ml de água quente
• 2 colheres de óleo de coco (ou da sua preferência)
• 1 colher de chá de mix de especiarias
• 1 colher de chá de sal
• 7 dentes de alho
• 16 folhas de ora-pro-nobis
• 1 colher de pimenta rosa

Modo de preparo:
Refogue o alho na gordura de coco, acrescente a água quente, as ervilhas secas, o sal e as especiarias. Cozinhe por 20 a 30 minutos na pressão ou até ficarem macias e cozidas (pode ser feita também na panela sem pressão, só o tempo e a quantidade de água que muda).

A ervilha cozida fica com aspecto de creme, você deve corrigir o sal se necessário e a espessura, acrescentando água ou apurando mais até ficar do seu agrado. Pique as folhas de ora-pro-nobis em tiras, acrescente ao creme e desligue. Sirva quente e finalize no prato com algumas sementinhas da Pimenta Rosa. Um prato proteico e aromático. Delicie-se.

Comente conosco sobre a suas experiências com essas plantas aromáticas, que nos trazem as mais diversas sensações. Até a próxima!

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FONTES CONSULTADAS

CROSARA, LUCYANE. Alimento, movimento e alma: receitas funcionais para seu dia a dia. São Paulo, SESI-SP editora. p 46. 2015.
DOURADO, M.T Óleos essenciais e oleoresina da pimenta rosa (Schinus terebinthifolius Raddi): propriedades químicas e biológicas. 2012. 120f. Tese (Doutorado em Ciências) – Faculdade de Agronomia “Eliseu Maciel”, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.
NAMU, O CHARME DA PIMENTA ROSA. 2019. Disponível em: https://namu.com.br/portal/alimentacao/funcionais/o-charme-e-sabor-da-pimenta-rosa/. Acesso em 05 de Fevereiro de 2020.
NORTAN, JILL. Ervas e especiarias: origens, sabores, cultivos e receitas. São Paulo, ed Publifolha, p 159, 2012.
SCHOPPAN, V. Óleo Essencial da Prosperidade - Pimenta Rosa. 2016. Disponível em: https://terra-flor.com/blog/oleo-essencial-da-prosperidade/. Acesso em: 05 de Fevereiro de 2020.

28.02.2020