HORTELÃ NA MEMÓRIA


Quando falamos em hortelã, logo vem à memória de infância aquele carinho reconfortante em forma de chá. No meu caso, as lembranças me remetem à cozinha libanesa vinda do meu avô paterno Abdalla Issa, e traz à memória muitos pratos. Em especial a Kafta assada - repleta de aromas, que geralmente era posta na grande mesa com toda a família reunida.

Essa erva pode ser utilizada em doces, saladas, legumes, carnes e bebidas. Também conhecida como menta, a hortelã é aromática, refrescante e de sabor intenso. Com uma grande variedade de espécies, têm origem no sul da Europa, América do Norte, Oriente médio e o centro da Ásia.

Entre as inúmeras variedades dessa planta herbácea, a mais comum entre nós é a hortelã-doce (Mentha arvensis), uma planta com variedades melhoradas e adaptadas a algumas regiões brasileiras, pois é originária de clima temperado. As folhas são lanceoladas ou oblongas, de cor verde-escura a verde-clara, superfície lisa ou levemente enrugada e margens serrilhadas ou sinuosas. O florescimento ocorre cerca de 4 meses após o plantio no campo. A colheita é feita no início do florescimento através do corte das plantas bem próximo ao solo. Nos estados de São Paulo e do Paraná são feitos dois a três cortes anuais.

Outra variedade familiar a nós é a hortelã-comum (Mentha spicata), planta que se adaptou bem ao clima subtropical. As folhas são ovais, de cor verde-clara, bordas serrilhadas ou sinuosas e conhecida como hortelã-das-hortas. A hortelã-pimenta (Mentha piperita), também é familiar e suas folhas têm forma alongada e cor verde-clara.

A hortelã é cultivada principalmente para a extração de óleo essencial, com o mentol como seu constituinte principal, que tem alto poder bactericida sendo utilizado como componente medicinal no preparo de pastilhas, chás, infusões, produtos de higiene bucal e outros. Esse óleo essencial é também utilizado pela indústria na fabricação de bebidas, balas, doces, licores, chás e até na indústria de tabaco.

No departamento “remédios caseiros” a hortelã é uma fonte de possibilidades incríveis. É usada como remédio das vias digestivas, flatulências, timpanite (especialmente a de causa nervosa), cálculos biliares, icterícia, palpitações, tremedeiras, vômitos (por nervosidade) e cólicas uterinas. É também um medicamento eficaz contra os catarros das mucosas, pois favorece a expectoração. Muitas pessoas usam o sumo embebido em algodão para acalmar dores em geral.

Um de seus usos mais populares é no tratamento de gripes, pois alivia as dores de garganta e por seus efeitos calmantes favorece o repouso reparador de uma boa noite se sono. Por seus poderes desintoxicantes, a hortelã ajuda eliminar toxinas, regula a temperatura do fígado e favorece uma boa digestão.
Essa erva versátil é ainda um vermífugo eficaz e hoje a ciência confirma os conselhos de nossas avós: o chá de hortelã aumenta a secreção do leite nas mães que estão amamentando – mas SEMPRE em pequenas quantidades, pois em excesso o chá é prejudicial às lactantes e tem efeito contrário em seus efeitos calmantes.

Na cosmética traz o rejuvenescimento da pele e recrescência. A hortelã pimenta é adstringente e clareia o tom da pele, podendo também ser utilizada como infusões para bochechar a boca para tirar o mau hálito. Para um banho estimulante ferva 50 gramas de folhas de hortelã por cerca de 3 minutos num litro de água. Misturar à água do banho (tomar pela manhã). O aroma da hortelã traz benefícios para aliviar a tensão e o estresse. Seu óleo é utilizado na fabricação de medicamentos para dor de cabeça e antidepressivos. Já sabonetes aromáticos ajudam a melhorar o humor.

A composição química dos óleos essenciais tem presentes (mentol, mentona, cineol e limoneno), flavonoides, sais minerais e colina.

Na culinária as folhas, principalmente da hortelã-comum, são usadas no preparo de molhos, geleias e como tempero de carnes de cordeiro, batatas, ervilhas ou cenouras, carnes de porco, saladas de folhas, como componente do tabule, além de uso medicinal. As folhas contêm vitaminas A, B e C, e minerais, como cálcio, fósforo, ferro e potássio. A hortelã seca é usada para temperar coalhadas e legumes como berinjela, pimentão e tomate.

A receita que passo hoje vem da minha raiz: a Kafta assada. Ela pode tanto ser feita no espeto na brasa, ou na travessa com molho de tomate. Eu fecho os olhos e consigo sentir o sabor guardado na minha memória com muita hortelã.

Kafta aromática ao molho de tomate

Rende 6 porçôes

Ingredientes:

  • 1,5kg de carne bovina (patinho ou acém) moído duas vezes
  • 1kg de cebola bem picadinha
  • 3 maços de hortelã comum picadas somente as folhas
  • 1 colher de sopa de pimenta síria
  • 200ml de azeite de oliva
  • 1 colher de sopa de sal
  • 1 litro de molho de tomate (de preferência fresco)

Modo de preparo:
Junte todos os ingredientes em uma bacia, exceto o molho de tomate, e misture amassando a carne com as mãos até ficar bem homogêneo. Disponha na travessa que vai ao forno, batendo suavemente com os dedos para espalhar bem.

Vai ao forno pré aquecido em temperatura média por 40 minutos ou até dourar. Não deixe assar demais para que mantenha a suculência do prato. No final, despeje o molho de tomate e volte ao forno somente para aquecer.

Leve à mesa ainda quente e sirva com arroz com aletria, batatas ao alecrim e escarola refogada. Combinação perfeita. Bom apetite!

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FONTES CONSULTADAS

BALBACH, A. As Plantas Curam. Itaquaquecetuba: Vida Plena, 2ª edição, 1997, p.128-129.
BREMNESS, L. Plantas Aromáticas. São Paulo: Civilização, 1993, p. 58-59
JÚNIOR, C.C.; MING, L.C.; SCHEFFER, M.C. Cultivo de Plantas Medicinais, Condimentares e Aromáticas. Jaboticabal: Funep/Unesp, 2ª edição, 1994, p. 101-102.
PANIZZA, S. Cheiro de Mato. Plantas que Curam. São Paulo: IBRASA, 1998, p. 151-152.

31.01.2020

Alquimista do Sabor



As Plantas Condimentares e a magia dos temperos naturais na gastronomia criativa.


Cozinheira desde sempre, Yoná Issa é formada pelo Centro Europeu em Curitiba, onde se fez chef de cozinha, gestora de restaurantes e sommelier. À partir de 2004 inicia sua carreira nos restaurantes de grandes hotéis em Curitiba (PR), Ilhabela (SP), Costa do Sauípe (BA) e Londrina (PR). De volta às origens pé vermelho, associa-se à sua mãe Viqui Gil e investe numa cozinha que traz bons ingredientes, sabores e emoções.
Da parceria surge o Restaurante Dona Menina, que se tornou referência na sinergia entre alimentação, cultura e modo de vida. Instalado em região central, com quintal à moda antiga, forno à lenha, pizzas artesanais e um bufê de alimentos orgânicos e caipiras cheio de conexões entre tradição e inovação, o Dona Menina fez história. E deixou como marca a reflexão e pesquisa permanentes em torno dos alimentos e seu impacto na vida moderna.
A casa funcionou de 2011 a 2019 – em sua segunda fase, como casa de pizzas e massas artesanais em novo endereço. Desde então, a Cozinha Dona Menina resiste atendendo a eventos, oferecendo cursos e promovendo encontros onde reúne e celebra a fiel clientela que acompanha sua trajetória e cultua sua culinária sempre surpreendente.
Recém-formada atualmente em Nutrição, Chef Yoná vem divulgando a pesquisa da relação intestino-cérebro, como a flora intestinal pode repercutir diretamente no cérebro e seu impacto na saúde e bem estar.

Na coluna Alquimista do Sabor, nós iremos desfrutar de todo o encantamento, conhecimento e delícias que ela vai nos trazer, mensalmente, sobre a magia das ervas condimentares.